segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Mãe de Cada Um.

Mãe não deveria morrer. Já disseram isso várias vezes. Não que eu esteja tentando livrar a minha barra, não querendo o encontro com a Dona do Meu Futuro Certo (a morte). Eu digo mãe da gente, aquela que nos gerou. Quanto a mim, deixo certos sentimentos para que meu filho lide um dia com eles. Hoje eu fui ao cemitério. Há oito anos minha mãe nos deixou. Quando era criança tinha pavor de pensar em passar na rua do cemitério. Hoje, pelo contrário, gosto até do cemitério. Tenho paz. Chorei, chorei muito, como há muito não chorava. Minha mãe não está ali, nem sei onde ela está e se está. Minha fé oscila por diversas opiniões e religiões. Não senti falta da minha mãe hoje. Sinto todos os dias. Por que todos os dias ela entrava no meu quarto para me dar um beijo de boa noite. Todos os dias conversávamos. Todos os dias ela amava o meu filho. e para quem é mãe (mãe amável, cônscia), sabe que cria nossa é quase algo intocável. e eu era cria dela. Fiquei pensando na palavra saudade e não concordo mais que ela seja usada do jeito que a usamos. Acho que deveriam existir duas palavras para designar saudade. Uma, que serviria para aquela saudade que sabemos que vai terminar quando encontrarmos a pessoa que está longe e dermos um longo abraço. E outra, que deveria ser usada para esta saudade que sinto, a saudade que não se mata. Uma tem um quê de alegria, outra só tem tristeza. Não adianta vir com o lado espiritual, que ela está bem, que um dia nos encontraremos, Isto não me interessa agora. Interessa o que eu SINTO agora: uma saudade que dói, que não termina em abraço. É o que mais sinto falta, de abraçar minha mãe, gesto que todos os dias eu fazia. Tenho tão boas lembranças. E com certeza é melhor lembrar assim. Como sempre fui meio louca, vivia agarrando ela e saía dançando pela cozinha. quando eu puxava um tango então, coitada, ela ria e reclamava: - Menina, assim você me quebra ao meio! Sei que ela ficava quietinha me ouvindo escondida cantando Panis Angelicus, música que ela adorava. Sei que ela tinha orgulho quando me via cantando no Coral de Petrópolis. Esteve sempre comigo quando precisei. E olhe que precisei muito. Fez por mim até mais do que eu precisei. Gostaria de ter feito o mesmo, talvez até tenha feito, mas da minha maneira: brincando, falando besteira. Era bom vê-la rindo. Uma vez tranquei ela e meu pai no quarto e fiz um super café da manhã para eles, até com croque monsieur (besta eu!). A reação foi hilária, a cara dos dois e eu falando o menu em francês rsrs! Outra vez, entrei pulando em cima da cama, quando eles se preparavam para dormir e comecei a cantar: MINHA VIDA, ERA UM PALCO ILUMINADOOOOOOOOOO. Minha mãe detestava Silvio Caldas e meu pai adorava. De um lado eu sacaneava e de outro eu homenageava. Os dois só balançavam a cabeça, riam e viam que a raspa do tacho tinha vindo com defeito grave de fabricação. Fazer o que a não ser me amar assim. Nunca fui coberta do beijos e abraços, mas sempre estiveram ao meu lado. E meu pai continua até hoje. Somos bem mais ligados agora. Hoje falo, me exponho, solto o verbo, porque aprendi que palavras guardadas não fazem bem, somatizamos. Não saio por aí falando. Falo para quem é importante para mim! Para quem tem lugar na minha vida. Falo através do olhar, dos meus risos e sorrisos, dos meus poemas, do blog que você lê e que eu escrevo agora. Falei hoje para minha mãe através do meu choro, lágrimas que deixei no granito preto e que se coloriram com a luz do sol. Não, eu não me acostumei com sua ausência, tenho que aceitar, é diferente. Foi-me imposta. Não, eu não sinto mais saudades. Tenho um sentimento cuja  palavra, como já disse no texto, ainda não foi criada. É uma grande mistura aqui dentro. Também para que definir? Vai adiantar alguma coisa?
Minha mãe e meu filho.

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